Tornar-se mãe ou pai não transforma só a rotina — transforma quem se é
A chegada de um filho costuma ser vista como um momento de alegria, plenitude e realização. Mas junto com o amor, também podem surgir dúvidas, inseguranças, cansaço extremo, crises de identidade e emoções contraditórias.
Essas transformações não significam fraqueza. Elas são parte de um processo profundo de reconfiguração emocional, que merece ser acolhido com respeito e escuta.
A quebra de expectativa: da idealização à realidade
Muitos pais e mães se deparam com um sentimento ambivalente: amor imenso, mas também cansaço, medo, raiva e tristeza. Isso acontece porque a sociedade ainda romantiza demais a parentalidade, silenciando os desafios reais envolvidos.
É comum ouvir frases como:
- “Aproveita, passa rápido.”
- “Você tem que estar feliz, é uma bênção.”
- “Outras mães/pais conseguem, por que você não?”
Essas frases, embora bem-intencionadas, geram culpa e isolamento em quem está passando por um turbilhão interno.
As transformações mais comuns nesse processo
💭 Identidade emocional
A pessoa deixa de ser “só” filha, profissional, companheira… e passa a ser mãe ou pai — papel que ocupa espaço emocional enorme e pode ofuscar os outros.
⏳ Ruptura na rotina e no tempo pessoal
O tempo se torna escasso. O autocuidado, os hobbies e até o silêncio desaparecem. Isso pode gerar sensação de perda de si mesmo.
😔 Luto pela vida anterior
Mesmo amando o bebê, é natural sentir falta da liberdade, do sono ininterrupto, da espontaneidade… e isso também precisa ser nomeado.
⚠️ Medos intensificados
Medo de errar, de não ser suficiente, de não dar conta. Muitos pais revivem suas próprias feridas da infância nesse processo.
Efeitos psicológicos mais comuns
- Ansiedade pós-parto
- Depressão perinatal (antes ou depois do nascimento)
- Irritabilidade constante
- Isolamento afetivo
- Dificuldade de vínculo com o bebê (sim, isso acontece e pode ser tratado)
- Crise no relacionamento conjugal
O papel da psicoterapia na parentalidade
A terapia é um espaço de escuta sem julgamento. Nela, é possível:
- Nomear emoções ambivalentes
- Elaborar culpas e medos
- Trabalhar a nova identidade que está surgindo
- Criar estratégias de autocuidado possíveis dentro da rotina
- Ressignificar vivências passadas que emergem com a parentalidade
Conclusão: ser mãe ou pai também é nascer de novo
A maternidade e a paternidade são atravessadas por amor, mas também por rupturas, perdas simbólicas e reencontros com a própria história. É um processo profundo, que merece tempo, acolhimento e cuidado emocional.
Se você está passando por isso, saiba: você não está só. E você não precisa dar conta de tudo em silêncio. Vamos conversar?